Dia 25 de junho marca a celebração do Dia Nacional do Imigrante
Imigração é o deslocamento de pessoas de suas terras de origem para territórios estrangeiros. Celebrado no dia 25 de junho, o Dia Nacional do Imigrante surge com o intuito de homenagear todos que decidem encarar vidas novas longe de casa por diferentes razões, como busca por melhores condições de vida e trabalho; crises políticas e perseguições.
Vale recordar que a história do Brasil tem forte relação com a imigração, desde seu descobrimento até o desenvolvimento. As terras brasileiras receberam imigrantes africanos forçados, devido ao processo de escravidão. Samuel Decresci, doutor em Ciências Sociais pela Unesp, fala sobre essa primeira onda migratória e seus desdobramentos. “Lá na África você tem essa questão étnica que gera guerras, então os próprios africanos vendiam africanos para os europeus por conta de uma guerra histórica. Isso foi comum dentro do continente africano. A partir do momento em que todos estavam numa situação de escravidão, isso se apagava aos poucos e eles perceberam que todos estavam na mesma situação, eram escravos e não considerados como pessoas. Então, a etnia se apaga”.
Posteriormente, nos séculos XIX e XX, imigrantes europeus começaram a chegar ao Brasil, inclusive milhares de italianos. Na época, a economia de café era muito forte e, praticamente, sustentava o país, o que atraiu muitos indivíduos que enxergaram novas oportunidades longe das guerras que perduravam na Europa. Muitas famílias brasileiras descendem dessas pessoas, inclusive a de Samuel, cujo “nonno” – termo utilizado por italianos para se referir aos avôs – nasceu em Ormelle, morou em Treviso e chegou ao Brasil, ainda menino, por volta de 1884. “O pai da minha mãe é o que me dá descendência e ele se estabeleceu no interior, depois de um tempo, conseguiu adquirir um pedaço de terra aqui entre Monte Alto e Cândido Rodrigues no começo do século XX. O pai do meu pai é filho de calabrês (da Calábria), mas ninguém sabe muita coisa sobre ele”, conta.
Algumas famílias com ancestralidade italiana têm algum envolvimento com a cultura da Itália. Decresci diz que sempre teve os parentes maternos como grande referência e cresceu com costumes bem presentes. Dá destaque ao futebol, por ser grande fã da seleção italiana e torcedor da Juventus desde adolescente, além do idioma, que passou de geração em geração. “Meus tios mais velhos falavam um italiano rústico que aprenderam com o meu nonno. Era interessante isso, os mais velhos falavam esse e os mais novos falavam mais português”, comenta e mostra como as culturas vão se misturando quando há processo de imigração.
Os imigrantes chegaram para substituir a mão de obra escrava, já que as autoridades britânicas pressionaram a abolição da escravidão por parte do Brasil. Os donos de terra financiavam as despesas e o deslocamento, enquanto os europeus deveriam trabalhar até saldar essas dívidas e recebiam salários baixos. “O Brasil, para quem veio para o sudeste, ofereceu certas oportunidades que essas pessoas não tinham. Se pudesse escolher, obviamente ir para os Estados Unidos era um melhor negócio, por conta do programa de governo de distribuição de terras, o Homestead Act, que se você conseguisse plantar durante cinco anos ininterruptos, a terra era sua”. Explica Samuel e complementa que “aqui foi para, em primeiro lugar, atender a demanda de café, então ofereceu oportunidades, mas digamos que a receptividade a eles não foi das melhores”.
Num panorama mais recente, a recepção dos descendentes na Europa também não é tão positiva. Samuel conta que sua prima recebeu comentários preconceituosos dentro de uma universidade e que a experiência dele foi ruim, já que os italianos não demonstraram muita paciência com turistas. “Quando eu fui para a Itália, até tentei falar italiano e interagir, mas a paciência dos italianos com os turistas é muito pequena, principalmente em cidades turísticas. Em Torino, minha prima teve uma experiência triste. Ela, com suas partes italiana, cabocla e nordestina, não tem nenhum sobrenome italiano e presenciou um de seus professores da universidade, infelizmente, dizer que é contra essa ‘imigração desenfreada’, se referindo a ela”. Decresci conclui que, em geral, descendentes não são vistos com igualdade.
Desse modo, o Dia Nacional do Imigrante, criado em 14 de novembro de 1957, pode ir além da homenagem às raízes ancestrais, pode promover reflexão acerca de diferentes identidades. Samuel destaca o valor da diversidade cultural e sua preocupação com a autoafirmação exagerada. “A globalização em si vai trazer um padrão de vida geral, aí é importante a manutenção das identidades, desde que não incorra em nacionalismo extremado e tóxico”.
Quer refletir sobre o dia de hoje com uma obra audiovisual? Confira “O Imigrante” (1917), curta-metragem de Charles Chaplin que retrata a precariedade das viagens realizadas pelos imigrantes e a chegada de Carlitos, protagonista, nos Estados Unidos!
O filme está disponível gratuitamente no YouTube!
Clique no link para acessá-lo: O Imigrante